segunda-feira, 13 de maio de 2013

MÃE E FILHA

- Bom dia! - A bênção, Mãe!...
No rosto, um riso tranquilo... Olhar curioso. Corpo franzino. A voz branda:
- Deus te abençoe!
Perguntei como estava. Sorri. Respondeu que - bem.
Outros idosos em volta. 
Minha filha também pede a bênção. Ela responde, com o mesmo olhar curioso. Admirada e ao mesmo tempo, a postura meio que alheia...
Olhei a pantufa que usava. (Fui eu quem dei, quando a memória era mais viva). Me identifiquei, falando meu apelido, e o nome de minha filha.
Veio o jantar por volta das cinco. À ela servi, calmamente. 
Perguntei se estava bom, disse que sim. E também se ela gostava do lugar, das pessoas... O gesto foi positivo. 
Fui buscar água. Pelos corredores, alguns me observavam, com aquele olhar de criança. Cumprimentei, conversei com alguns. 
Voltei para junto dela. Tomou a água sozinha.
Comentei com ela do resfriado terrível que sofri dias atrás, de um modo que 
ela entende bem, com o humor típico nordestino, próprio dela:
- Mãe, peguei uma gripe de égua. Só faltei ficar de quatro. O trem foi feio!..
Ela sorriu, dessa vez um riso largo. E sussurrou algo, tipo: - Oh meu Deus!..
Falei, dessa vez com a voz embargada: - Senti falta do seu chá. "Chá de mãe". Sinto falta do seu café... Em fração de segundos pensei:
- Vou chorar quando estiver na estrada, rumo à minha casa, do meu jeito.
Ficamos mais um tempo. E o tempo venceu, apenas naquele dia. Então a acomodamos numa cadeira de rodas. Levamos até uma funcionária da clínica.
Nos despedimos. Dessa vez ela abençoou com firmeza na voz. Eu disse, de todo coração: - Mãe, fica com Deus!.. Nossa Senhora te proteja.
Ela disse: - Amém. Você também.
Fomos embora, completamente dividida. Nenhuma lágrima. Só alimentei, além da saudade que já brotava, o sentimento de FÉ... A certeza de que minha mãe está sob a divina proteção, e que nem sempre temos os remos do destino. E por mais que uma situação "X" seja vista a olho nu, somente quem saboreia, quem atravessa literalmente o caminho, é quem pode sintetizar o valor de um sentimento genuíno de dor e resignação. 
Minha mãe tem mal de alzheimer. Vive num local com estrutura e cuidados adequados para tal problema, pois devo admitir, não sou capaz de atende-la cem por cento, com os devidos cuidados. Seria desleal de minha parte, se assumisse tal missão. Porém, me faço presente de acordo com minha capacidade. Se é fácil... Decididamente não. O nó no peito não se desfaz. Porém, não há um só dia em minha vida que não mentalizo o seu melhor. E então não levo a sério a distância. Em prece, entrego-a, não só em datas marcantes, mas a cada vez que bate a saudade... Aos cuidados especiais de JESUS CRISTO. 


L.L.